sábado, 7 de agosto de 2010

Sem figuras

As figuras de linguagem atrapalham minha vida.

Depois de tantos cantores e poetas declararem que pensam em alguém todo dia, como é que eu vou falar pro meu amigo Caio que pensei nele duas vezes esta semana?

Parece pobre.

Pensei com afeto, espontaneamente, de coração. Do nada. Não é que lembrei que ele me deve um layout para este blog, nem que olhei uma fotografia de Salvador e pensei "puxa, é mesmo, olha o Caio".

* * *

As figuras estabelecem um novo padrão de carinho. Um padrão hiperbólico. Mais beijinhos que peixinhos no mar. Pensar em você todo orado dia.

Não há quem aguente.

(Além do mais, pensar em alguém todo dia não é necessariamente bom. Você pode pensar no filhodaputa que te passou herpes, por exemplo).

* * *

Quando o João Paulo era pequeno, ele chamava aquele formigamento da língua em contato com o gás do refrigerante de "figuras".

Claro que ele não tinha a menor ideia de que figura = desenho, ilustração, aparência. Então ele pegou essa palavra de algum lugar e a colocou a serviço de explicar para os outros porque ele punha a língua para fora depois de beber guaraná:

"É que me dá figuras na língua".

* * *

Gente, não se esqueçam que aqueles cabelos da propaganda da Garnier não existem. Nem as partículas de extra-limpeza. Nem o Laboratório de Pesquisas Oral-B, forrado de telões e cheio de gente de jaleco branco.

É tudo figura.