quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Corte seco

Abri os olhos de manhã e vi um cursor de mouse estampado no cenário do meu quarto.

* * *

Nunca houve uma faca decente na minha casa de infância e adolescência, nem nas minhas casas adultas.

Era uma espécie de maldição, um encantamento que algum amolador de facas cigano deve ter jogado na minha mãe.

Não existia um conjunto completo de facas, como qualquer ser humano normal deve ter: uma de legumes, uma de carne, uma de pão, etc. Tinha uma faca boa - às vezes de lâmina, às vezes de serra - e muitas ruins.

E a gente descascava batata com faca de serra, porque era a única boa. No fim, a batata parecia uma ruffles.

Ou cortávamos pão com faca de lâmina, porque era a única boa. No meio do corte, terminávamos o serviço com a mão.

Anteontem eu comprei um conjunto de facas de marca boa, com quatro facas e, pasme!, uma tesoura de cozinha. (Na casa da minha mãe não se achava as tesouras nunca, fossem elas de qualquer cômodo. Muitas vezes a culpa era minha).

Custou só 86 reais.

Eu não sei porque demorei tanto.