domingo, 4 de setembro de 2011

If you can believe your eyes and ears

If you had such a dream
would you get up and do the things you’ve been dreaming
?
-- Belle & Sebastian, I Could Be Dreaming

Lavei o rosto, ajeitei o cabelo, escovei os dentes. Corri para a cozinha para deixar o café passando. A cafeteira estava suja, tive que lavar (nunca mais deixo a cafeteira suja de véspera). Acendi o fogo com fósforo, a ignição não funcionou.

Voltei pro quarto. Telefonei para a Ceretti, ela podia ir me seguindo de bicicleta. Vesti uma roupa. Não gostei. Corri até a lavanderia e peguei outra calça. Não vai dar tempo de maquiar. Lembrei que precisava por gasolina no carro. Senão não chego.

Tomei o café, mastiguei alguma coisa. Chamei o elevador enquanto trancava a porta. Tirei o carro da garagem tão rápido que nem me lembro. Encostei no posto, "põe 50 de álcool, por favor?".

E aí acordei.

Odeio perder a hora quando já estava quase lá.

E, pior ainda, eu não ia ver a Ceretti.

* * *

Ontem aconteceu uma coisa que eu achei que não ia viver para ver: conheci o apartamento do Dener. Do Dener mesmo, onde ele vai morar/está morando sozinho.

Levei uma peça de peito de peru. Daqueles pequeninos, para lanche, embalados a vácuo. Para ele cortar as fatias de cinco dedos de espessura, que ele tanto gosta, e comer puro, como ele fez tantas vezes nas casas alheias.

Levei um baleiro cheio de 7 Belo e Bolete, duas das poucas coisas verdadeiramente boas e baratas da vida.

E uma cesta com danoninho de potão (porque ele já é grande), flan e danete branco. Porque agora ele pode encher a geladeira da casa dele com todas as delícias que a gente sempre sonha comprar no mercado quando a gente for morar sozinho.

Com novos amigos na sala, contamos mais uma vez a história de quando ele foi assediado pelo enfermeiro afrescalhado no PS de Mongaguá.

Fiquei pensando se sonhamos essa história, de tão boa que ela é. Mas acho que sonhamos quase nossa adolescência toda, e sei que sou loucamente privilegiada de ainda ver e amar as pessoas que sonharam comigo.
As coisas boas e baratas da vida