segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Enquanto o mundo cai

"But passion most dissembles, yet betrays
Even by its darkness; as the blackest sky
Foretells the heaviest tempest"
-- Lord Byron, em "Don Juan"

Quando eu tinha 8 anos, assisti "Labirinto - A Magia do Tempo" e fiquei apaixonada pelo David Bowie, mesmo sem saber quem era o David Bowie.

Muito magnético, ele como Rei dos Duendes.

Depois, apareceu em casa uma fita K7 intitulada "Românticas (com eco)". Não sei onde meus pais arrumavam essas coisas.

A primeira música era "As the World Falls Down". Com eco, naturalmente.

Eu ficava ouvindo, rebobinando e ouvindo de novo, sem parar. Descobri que se jogasse a equalização para um caixa só, mesmo sem saber o que era equalização, a música ficava melhor.

E imaginava cenas das quais eu adoraria me lembrar melhor. Mas acho que envolviam o Rei dos Duendes ou o Peixinho, o menino mais bonito da escola; corridas em câmera lenta por campinas verdejantes e um castelo. Tudo na contraluz.

* * *

Quando eu tinha 3 anos, minha mãe me levou ao teatro para assistir a uma montagem da fábula "A Cigarra e a Formiga".

Eu fiquei apaixonada pela Cigarra.

Quando ela morreu, eu chorei. E não parei mais.

Não adiantou nada minha mãe explicar que a Cigarra não tinha morrido, que era só faz-de-conta e o moço estava vivo lá atrás do palco.

Ela me levou às coxias para provar que estava falando a verdade. Aí eu vi que o moço estava vivo mesmo, ele sorriu e fez festinha na minha bochecha e falou "tá tudo bem, viu?".

Mas ele não era a Cigarra. Era só um impostor com as roupas dela.

Ela tinha morrido mesmo.