Quando eu tinha 8 anos, assisti "Labirinto - A Magia do Tempo" e fiquei apaixonada pelo David Bowie, mesmo sem saber quem era o David Bowie."But passion most dissembles, yet betrays
Even by its darkness; as the blackest sky
Foretells the heaviest tempest"
-- Lord Byron, em "Don Juan"
Muito magnético, ele como Rei dos Duendes.
Depois, apareceu em casa uma fita K7 intitulada "Românticas (com eco)". Não sei onde meus pais arrumavam essas coisas.
A primeira música era "As the World Falls Down". Com eco, naturalmente.
Eu ficava ouvindo, rebobinando e ouvindo de novo, sem parar. Descobri que se jogasse a equalização para um caixa só, mesmo sem saber o que era equalização, a música ficava melhor.
E imaginava cenas das quais eu adoraria me lembrar melhor. Mas acho que envolviam o Rei dos Duendes ou o Peixinho, o menino mais bonito da escola; corridas em câmera lenta por campinas verdejantes e um castelo. Tudo na contraluz.
* * *
Quando eu tinha 3 anos, minha mãe me levou ao teatro para assistir a uma montagem da fábula "A Cigarra e a Formiga".
Eu fiquei apaixonada pela Cigarra.
Quando ela morreu, eu chorei. E não parei mais.
Não adiantou nada minha mãe explicar que a Cigarra não tinha morrido, que era só faz-de-conta e o moço estava vivo lá atrás do palco.
Ela me levou às coxias para provar que estava falando a verdade. Aí eu vi que o moço estava vivo mesmo, ele sorriu e fez festinha na minha bochecha e falou "tá tudo bem, viu?".
Mas ele não era a Cigarra. Era só um impostor com as roupas dela.
Ela tinha morrido mesmo.