"C'est la vie, say the old
folks, it goes to show you never can tell"
-- Chuck Berry, Never can Tell. Da
trilha de Pulp Fiction
O Mestre dos CDs deixava avisos ciosos e meio ameaçadores para mim.
"Não encoste o dedo no CD!"
"Cuidado ao tirar o encarte!"
"Atenção! Estou de olho!"
Tudo isso em papeizinhos enfiados nas caixas dos CDs que ele me emprestava. Não sei como ele arrumava tanto lugar onde por bilhetinhos em um simples CD. Quando você menos esperava, caía de alguma parte da caixinha um pedaço de papel assinado, que descia rodopiando até o chão:
"Assinado: Mestre dos CDs"
Sempre escrito em letra bastão, uma caligrafia ciosa como ele era com os CDs.
Tá certo que eu não acreditava no preceito básico de "guardar um CD dentro da caixa que lhe é correspondente". E eu ria na cara da ideia de "manter os CDs em ordem alfabética". Mas, na cabeça do Mestre dos CDs, toda vez que fosse ouvir uma música, eu provavelmente sentiria uma vontade louca e descontrolada e lambuzar os dedos de manteiga, e isso seria fatal.
Eu não ligava, ciosa como eu era com ele.
E ele era meu melhor amigo, o Mestre dos CDs.