Amanhã eu vou fazer 32 anos.
Hoje estava contando e já morei em 10 casas.
Isso dá uma média de 3,2 anos por casa, o que parece absurdo, já que tem uma casa em que parece que eu morei toda a minha vida: a casa do bairro Assunção.
Na verdade, a casa do bairro Assunção foi a terceira. Primeiro, logo que eu nasci, moramos num apartamento alugado em São Caetano do Sul. Depois, para meus pais conseguirem um fôlego a fim de financiar o grande sonho brasileiro da casa própria, moramos por um tempo na casa da minha avó, na Vila Alpina, em São Paulo.
Aí, quando eu tinha 4 anos, nos mudamos para a rua dos Crisântemos, 154. O simples enunciado do endereço, "rua dos Crisântemos um-cinco-quatro", me parece radiante, luminoso e fundamental ainda hoje.
O sobrado da rua dos Crisântemos tinha dois quartos, sala, cozinha, um banheiro, lavanderia, garagem na frente e quintal no fundo, ligados por um corredor, onde eu me deitava e olhava para a altura da casa bem rente ao muro. Era tão grande, meu Deus, parecia o Everest. Mas eu é que tinha só 4 anos.
A casa era um primor da cultura de subúrbio, com um ipê amarelo em frente, portão de alumínio, garagem coberta por aquelas telhas brasilit (que minha mãe sempre sonhava em transformar em uma laje, claro), vitrôs de vidro ondulado, carpete por dentro e móveis em cerejeira.
Eu nunca vi o telhado da casa do bairro Assunção. Morei lá de 1982 a 1990. Meu irmão nasceu quando a gente morava nessa casa. Eu fui para a escola nessa casa. A Rê veio morar com a gente nessa casa. E a Mari nasceu literalmente ali, pelas mãos da Angela (diz-se An-guê-la), a parteira alemã que veio ajudar a Tita a ter seu primeiro bebê.
82 a 90 são oito anos. Quase dez. Significativamente mais que 3,2. Mas ainda parecem pouco, oito anos, para a casa do bairro Assunção.