quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Malatesta

Hoje eu tô com a macaca.

Mas só por dentro.

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Eu me lembro de uma viagem para a praia em que o Chicão foi. Essas viagens de adolescência. O Chicão tinha uns 12 anos e tinha se casado com uns 8. Traduzindo, ele devia ter uns 19 e tinha se casado aos 17, com a namoradinha de infância que ele conhecia desde os 6. Era uma história linda.

Aí a gente tava conversando num dos quartos, ouvindo o barulho do mar, e ele vira e me diz:
- Tirando sua mãe e a minha, eu gostaria de comer todas as mulheres do mundo.

Acho que o casamento dele não ia muito bem.

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Eu me lembro quando eu e minha mãe estávamos em Napoli e tudo tinha dado errado e a merda do trem que esperávamos na Termini parecia incapaz de se decidir em qual binario ia chegar, e quando chegou era outro trem e o funcionário queria que a gente fosse em pé, e quando eu disse "so I want my money back" ele falou, com sotaque italiano, "no! no mâni béqui!", sacudindo as mãos, e no fim eu achei até engraçado.

Mas a gente tava em Napoli e não ia conseguir chegar a Capri, então resolvemos almoçar no porto e parou um navio de cruzeiro destes enormes e desceu um monte de franceses. E a gente continuou lá almoçando e depois decidimos fumar um cigarro e aí chegou um cara vestido de capitão de navio e pediu um cigarro e nós demos.

E ele começou a balbuciar umas palavras e a gente disse canhestramente, em umas cinco línguas diferentes, "desculpe, não entendo, não sou daqui (não tenho amor)", mas ele continuava balbuciando. E tirou os sapatos e colocou em cima da cadeira e eu pensei "mas esses franceses são bem à vontade, não?", mas de repente ele foi embora e o garçom do restaurante veio e falou: "malatesta!".

E pronto, eu amei essa palavra. O mala testa de Napoli.

O porto de Napoli bem naquele dia azul. O mala testa é o quarto à direita
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Mentira.