Uma vez, quando eu era pequena, ganhei um quebra-cabeças.
Como balainho novo tem três dias de torno, eu não largava o quebra-cabeças. Para lá e para cá.
Mas, mesmo amando muito meu quebra-cabeças, depois de montá-lo no quintal com algum raro amiguinho da rua, deixei as peças lá, esparramadas sobre as lajotas da garagem.
Pouco mais tarde, fui procurar o quebra-cabeças lá, exatamente onde o deixei.
E nada de quebra-cabeças.
Sentei à mesa do jantar e perguntei para o meu pai se ele tinha visto o quebra-cabeças quando chegou do trabalho.
E ele: "não".
E eu: "ué".
E ele: "vai ver alguém roubou".
E eu (só pensando): "que tipo de gente serra um portão de alumínio para roubar um quebra-cabeças de 20 peças, e depois forja o portão rapidinho no mesmo lugar, sem deixar rastros?" (Eu já tinha analisado as barras do portão).
E ele: "você precisa aprender a guardar suas coisas direito".
E eu (só pensando): "acho que ele está tentando me dar uma lição".
Depois do jantar ele devolveu meu brinquedo.
Desde esse dia aprendi que dificilmente alguém invade uma casa para roubar um quebra-cabeças. Mas pais podem fazer coisas ainda menos sensatas.