segunda-feira, 30 de maio de 2011

Altas esperanças

"Não existe mais a casa...
-- Mas o menino ainda existe"
-- Manuel Bandeira, em Velha Chácara

O nível de esperança de uma pessoa que vai passar férias em Londres, Dublin e Edimburgo e, antes, marca uma depilação é...

a. doentio
b. razoável
c. descolado da realidade
d. normal. É verão na Europa, os termômetros vão marcar loucos 17 graus e nós vamos nos jogar na Serpentine. \o/

* * *

É incrível como seis pessoas que, antes, dividiam o espaço de um mero sobrado de dois quartos na rua dos Crisântemos possam ter se dispersado para tão longe.

Hoje as cinco pessoas que moraram comigo em quase toda minha memória de infância se espalham por cidades tão distantes quanto Curitiba e Bertioga. Mesmo as que moram perto ficam longe, de alguma forma, pelo trânsito, pela agenda, pelo adiantado da hora: Cotia, São Judas, São Bernardo, Cambuci.

Eu tenho muitas saudades destas pessoas todas. Eu tenho saudades de dividir um pacote de bolacha no sofá e brigar pela última, ou pelo sabor do pacote que deveria ser aberto: doce de leite, chocolate ou morango? As três eram definitivamente umas tranqueiras, mas cada um gostava de uma.

Eu tenho saudades de brigar pelo controle remoto e pelo melhor lugar do sofá. Eu tenho saudades de passar direto pelas pessoas de manhã, sem a obrigação de falar com elas.

Eu tenho saudades de quase tudo, e às vezes esta saudade fica forte mesmo, de doer a garganta, por mais que eu visite estas pessoas, às vezes menos do que eu gostaria.

* * *

Mas aí pelo menos você chega no trabalho segunda de manhã e as amigas elogiam sua bunda.

A mesma bunda que, poucos meses atrás, você descobriu que caiu sem aviso prévio, antes mesmo que você notasse que um dia sua bunda foi empinadinha.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Entre sem bater

"Brutalize me with music"
-- Bob Marley, Trenchtown Rock

Sempre amei essa música, mas só hoje vi as letras. E descobri esta versão do Sublime.

Só fica melhor. E é tudo verdade, todo verso. Porque, no fim, you gotta tell Jah.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Só os loko de Frankfurt, em 1969



1:19 Mina estranha sobe no palco de xale.

1:40 Começa o bailinho atrás da Janis.

1:44 Baixa o santo no que parece ser uma moça (sei lá, nos anos 60 era todo mundo igual, cabeludo, e essa putaria só acabou quando vieram os militares), atrás da mina estranha de xale. Veja mais sobre baixar o santo aqui, a partir do 1:58.

1:58 Groucho entrega um lencinho à Janis. Explica: "é para você limpar a cabeça".

2:03 Ainda não sei se é um homem ou uma mulher recebendo ali atrás. Acho que é uma mulher.

2:09 Toda a ginga e a malemolência do homem alemão.

2:21 Lá vem a melhor parte. Ela entra pelo canto, à esquerda do seu vídeo.

2:25 Aí está a melhor parte, de camisa branca e gravata preta.

2:29 Sair do banco às 16h e ir direto pro show da Janis, quem curte?

2:32 O cara antecipou a lambada, só isso.

2:45 E eu achava que a Janis era LOKA.

3:26 ... (insira aqui um comentário) ...

3:40 Peace, germans.

Don't stop believing

"I never forget a face, but in your case I'll be glad to make an exception."
-- Groucho Marx

Crenças aparentemente conflitantes podem funcionar muito bem.

Eu, por exemplo, sou calvinista...


... e marxista.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O teatro e o meu cu

Qual é o verdadeiro peru pandemonium?

Este...



Ou este?


TCHANAM! Zé Celso por Chico Porto

* * *

O edredon verdinho que ainda me cobre hoje tinha borboletas brancas, eu acho. Isto há muito tempo.

Digo 'eu acho' porque eu mesma desconfio muito de mim.

E também porque não há o menor sinal da estampa de borboleta sobre a trama agora.

Talvez eu tenha imaginado as borboletas brancas.

Mas por que eu teria imaginado isso?

* * *

Tem aquela história famosa que nós contamos sobre o Zé Celso.

Trata-se de um trecho inesquecível de uma entrevista em que ele explica como descobriu o teatro. Ele aponta para o cocoruto e repete a frase solene:

"Eu descobri o teatro quando eu descobri o meu cu".

Supostamente fui eu que assisti isso, ainda nos tempos de rua Atlântica. Muito tempo mesmo, era pré-YouTube. E contei para a Roberta. E ela contou para a classe inteira. E cada uma das meninas da classe reproduziu aquilo de forma que, hoje, os meus colegas de trabalho conhecem a frase. E não por mim.

Mas, para falar a verdade, eu não me lembro mais da cena.

Para falar a verdade, eu acho que a repetição da história simplesmente ocupou o lugar do acontecimento original.

(Porque, por outro lado, eu acho que seria incapaz de inventar esta cena, embora eu adoraria tê-la inventado).

Que nem as borboletas brancas.