sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Harder, better, faster, stronger

Às vezes eu me pego dançando sozinha, bem devagarzinho, no trabalho. Como se não tivesse ninguém em volta. Como se todos os computadores sumissem.

Depois eles voltam e as pessoas também e, no fundo, eu nem ligo se tiver alguém vendo.

Hoje a culpa foi do Daft Punk.

* * *

Mulheres fingem orgasmo. Se alguma disser que nunca fingiu, provavelmente está mentindo. Como os homens que dizem que nunca brocharam.

Mulheres fingem orgasmos porque estão entediadas. Porque querem resolver logo. Porque já estão satisfeitas. Porque têm mais o que fazer. Porque estão com calor demais. Porque se angustiaram. Porque vai começar o Letterman e seu ator favorito vai estar lá. Porque estão com fome e querem comer logo. Porque não querem ferir o orgulho masculino. Porque não querem ferir o orgulho feminino. Porque estão com preguiça de explicar. Porque estão com preguiça de aprender.

* * *

"Cantor do Black Eyed Peas vira diretor criativo da Intel" e "Condessa quer despejar João Gilberto". Em que mundo estamos vivendo, meu Deus?


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

No banheiro

Quando eu era pequena, tomava banho com a minha mãe.

Ela depilava as pernas e eu ficava olhando, intrigada.

Um dia, eu devia ter uns 8 anos, estava tomando banho sozinha e resolvi fazer o mesmo.

Eu sabia para que servia aquele procedimento, eu sabia que não servia de nada nas minhas perninhas peladas. Mas eu queria fazer igual: apoiar a perna, arquear o corpo, passar a gilete. Parecia uma pintura, era bonito, minha mãe fazia. Por que não, não é mesmo?

Aí eu ensaboei a perna, peguei a gilete e - skrit, skrit! - descasquei a pele da canela que nem eu descascava as batatas para ajudar minha mãe a fazer a sopa.

Depois eu tive que usar dois bandaids, de comprido, no lugar descascado.


Quando a gente é pequeno, a gente tem mesmo muito tempo livre.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Não vai nada?

Na sala de reuniões

Diretor: ... e esse projeto só poderia se consolidar com a sua liderança. Por isso, queremos que você seja o novo gerente da área. É claro que a posição exige mais dedicação, mais energia, talvez até mais tempo. Você terá responsabilidades, meu filho. Isso é grande. É para você ver que nós não estamos brincando. A princípio, não temos verba para o ajuste do salário. Mas depois de três meses, quando o projeto estiver andando, vamos rever esta situação. De qualquer forma, você terá uma equipe à disposição. São dois estagiários. Em seis meses pensamos em contratar um fixo. E seu ticket refeição vai passar de 12,84 para 13,78 por dia, pela posição gerencial. E então? Tem alguma pergunta?

Sampaio, depois de um suspiro profundo e uma pausa silenciosa cheia de significados: Tenho, sim. E na bundinha?

Foram suas últimas palavras na empresa.


* Inspirado em um sonho com o Guss.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mais amigos invisíveis

Los Primos batucavam em toda e qualquer coisa na casa ao lado. Antes de espiar por cima do muro, eu podia jurar que eles tinham uma bateria completa em plena casa de praia.

De um lado do muro, a gente cantava na ducha. Tinha acústica. Do outro, eles acompanhavam na bateria imaginária.

Depois derrubamos o muro e ficamos amigos. Descobri que eles não tinham bateria. Era tudo no improviso.

Quando eles viajavam sozinhos, as mães deles mandavam tapauéres com refeições prontinhas.

Já a gente levava atum e macarrão.

Eles invadiam nossa casa, jogavam peteleco, abriam a geladeira e se serviam de coca-cola -- sem a menor cerimônia.

Em troca, a gente tinha lugar garantido no carro deles quando chegava a noite e as garotas (e garotos) só queriam se divertir.

E nós e Los Primos éramos grandes amigos.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Meus amigos invisíveis

"C'est la vie, say the old
folks, it goes to show you never can tell"
-- Chuck Berry, Never can Tell. Da
trilha de Pulp Fiction


O Mestre dos CDs deixava avisos ciosos e meio ameaçadores para mim.

"Não encoste o dedo no CD!"

"Cuidado ao tirar o encarte!"

"Atenção! Estou de olho!"

Tudo isso em papeizinhos enfiados nas caixas dos CDs que ele me emprestava. Não sei como ele arrumava tanto lugar onde por bilhetinhos em um simples CD. Quando você menos esperava, caía de alguma parte da caixinha um pedaço de papel assinado, que descia rodopiando até o chão:

"Assinado: Mestre dos CDs"

Sempre escrito em letra bastão, uma caligrafia ciosa como ele era com os CDs.

Tá certo que eu não acreditava no preceito básico de "guardar um CD dentro da caixa que lhe é correspondente". E eu ria na cara da ideia de "manter os CDs em ordem alfabética". Mas, na cabeça do Mestre dos CDs, toda vez que fosse ouvir uma música, eu provavelmente sentiria uma vontade louca e descontrolada e lambuzar os dedos de manteiga, e isso seria fatal.

Eu não ligava, ciosa como eu era com ele.

E ele era meu melhor amigo, o Mestre dos CDs.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Há um mundo bem menor

Se tem um pequeno poder que eu queria ter é o de comer sem derrubar migalhas.

Se tem um pequeno desapontamento terrível é derrubar a escova de dentes depois que você já colocou a pasta nela.

Se tem uma pequena alegria é o de ouvir o barulho da lixeira do computador esvaziando.

* * *

Outros pequenos desapontamentos:

* o copinho de café cair da máquina sem colherinha;
* o sujeito à sua frente na fila de 20 volumes ter *realmente* 20 volumes no carrinho (quando pareciam 42);
* errar a senha no caixa eletrônico e descobrir que não tem botão corrige.

* * *

Ainda estamos trabalhando em outras pequenas alegrias e outros pequenos poderes.

* * *

Todo meu amor para quem chegou a este blog procurando "datisfeita yolanda" no google.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os dias na praia

No fim do ano passado, nos dias na praia, a gente assistia à novela das nove (anteriormente conhecida como novela das oito) todo dia.

E assistimos até a "Crepúsculo" no Cinema Especial, porque só pegava a Globo.

E foi uma ocasião muito feliz, porque de que outra forma poderíamos assistir a "Crepúsculo"?

Ver novela também foi prodigioso. Porque no dia seguinte eu me sentia por dentro de um assunto que mais da metade da população domina. É uma espécie de comunhão.

Quando a gente pode escolher entre 150 canais, isso obviamente não acontece.

Livre-arbítrio é que nem iPhone.

Só porque você tem não significa que você saiba usar.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Docinho

Sonhei que o Serra e o FHC foram comer sobremesa em casa.

O Serra levou petit gateau e eu mandava ele por os bolinhos no microondas antes de servir.

Para dar aquela derretidinha, sabe?

* * *

Até quando se pode dar feliz ano novo pras pessoas?

a. até a segunda semana de janeiro
b. até a primeira vez em que você encontra a pessoa, desde que isso aconteça no máximo em meados de março
c. até a Páscoa
d. até dezembro


Ok. Feliz 2011.