sábado, 31 de julho de 2010

Oito anos

Um dia qualquer no segundo semestre de 1986.

- Como assim, mãe, ele estava andando de camelo na cidade?
- "De camelo" quer dizer "a pé", Cla.

- E ela tinha uma lata de tinta no cabelo?!
- Ele quer dizer que ela tingia os cabelos.

- Ah. E nada a ver isso, "ela era de leão e ele tinha 16". Por que ele não fala a idade dela também? Não tinha que ser idade com idade?
- O que ele quer dizer, Cla, é que ela tinha uma personalidade forte, de um signo forte, e ele era novinho ainda, bem moleque, mais frágil que ela. Olha só, ela gosta de um monte de bandas e artistas importantes, e ele gosta de ver novela e brincar com o avô.

- Ahn, entendi.
- Viu? Aí eles ficam juntos e ele muda, mas ainda assim ela já está se formando quando ele entra na faculdade. Ela era super cabeça e ele era brincalhão.

- Mas aí, se ele mudou, por que no fim ele fala que "o filhinho do Eduardo tá de recuperação"? O filho não é dos dois, mãe?
- É, mas ele quer dizer que tem coisas que nunca mudam.

Minha mãe me ensinou a ler quando eu tinha 4 anos e nunca mais parou.

A mão de capivara

A mão de capivara é parte integrante da nossa vida e não pode ser vendida separadamente.

Ela consistia, bem, em uma... mão de capivara. Pata, na verdade, né. Empalhada. Era do meu avô, mas ele deu para o João Paulo, acho que de tanto o moleque insistir.

Eu tinha absoluto pavor da mão de capivara. Ela era dura, morta, conservava unhas escuras e, morram, pelos. De capivara. Era um troço bem nojento, ainda mais quando você tem 14 ou 15 anos.

Quando você é menino e tem 9 ou 10, pelo contrário, a mão de capivara é uma das coisas mais legais que você já viu na vida. O João Paulo amava aquela mão de capivara, guardava com todo carinho, levava na escola quando podia e, sobretudo, colocava em cima do meu travesseiro para me assustar.

A mão de capivara também é legal quando você é uma menina com os mesmos 14 ou 15, mas signatária de um respeitável espírito de porco. Então, a Roberta amava a mão de capivara e tinha planos para ela. E me fez levá-la para a Disney, na nossa excursão de comemoração aos 15 anos.

No aeroporto, ela escondeu a mão de capivara sob a manga, segurando o cartão de embarque contra a pata empalhada. Como se a mão de capivara fosse a mão direita dela. E estendeu-a para a aeromoça. Que tomou um susto e deu um salto de banda, desfazendo o sorriso de boas-vindas em uma cara de horror.

E assim começou a viagem para a Disney.

Não sei onde foi parar a mão de capivara.

Até hoje, quando vemos uma capivara nos parques de Curitiba, meu irmão se pergunta se é naquela que está faltando uma patinha.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Very supersteentious

Quando eu era adolescente praticava um sem número de superstições bobinhas das quais me lembro até hoje.

Se você falava uma mesma palavra junto com outra pessoa, tinha que pegar no verde e dizer "sorte para mim, sorte para você". Mas eu jamais fazia isso na frente de um menino.

Se tinha um fiapo na sua blusa é porque um menino estava pensando em você. Se o fiapo fosse escuro, era um menino moreno. Se fosse branco ou claro, era um loiro.

Se você olhava para o relógio e ele estivesse marcando 13:13, 14:14, 21:21 ou similares, era para pensar no menino porque ele estava pensando em você.

Nossa. Como a gente era casadoira.

Ou eram só os hormônios em ebulição?


Para ler ouvindo Superstition, do Stevie Wonder:

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Precisa me amar

Ou: De como continuar atormentando seu irmão

JonY - I Can Fly - Meu jeito direto de ser... diz:
como eu coloco o nome das pessoas no meio dos meus twitts?

Clarissa diz:digita @ antes
e o 'nome' da pessoa no twitter
tipo "a @clarissaaa é a irmã mais legal do mundo. fato."(é só copiar e colar agora! \o/)


Update (19.07, 13:35)



Histórias de banco

Vou ao Banco do Brasil, onde tenho uma conta compulsória porque a corporação achou por bem abrir uma conta em meu nome lá, onde eles depositam meu salário e fornecem meus dados para os gerentes me ligarem com ofertas de cartões de crédito, planos de previdência e títulos de capitalização, coisas nas quais tenho tanto interesse quanto na vida marinha da Fossa das Marianas.

Pois quero transformar minha conta naquela joça em conta-salário, justamente para nunca mais pisar naquela merda. Leva 45 minutos. Não importa, estou armada de paciência. Podia assistir até a um documentário sobre a vida marinha na Fossa das Marianas.

Na hora do vamos-ver, a *bancária* vira e pergunta para mim:
- Ahn... Você sabe qual é o número do Banco Real?

Mano. A bancária não sabe o número de um banco. É como se eu fosse ao médico e ele dissesse: "hum. Você sabe qual é o nome do remédio? Aquele, de dor de cabeça. De blister meio verdinho".

Tenho uma colega de trampo que foi bancária há *anos* e até hoje ela me diz os famigerados números dos bancos na hora de fazer docs. E a bancária em exercício não sabe qual é. Eu tenho que dizer:
- 356, acho?

Pausa. Hesitação. Digitação esparsa.
- Erhn... Ah, é isso mesmo.

Saí que nem a mulher do fundador do banco: bati os sapatos e decretei que "dessa agência não levo nem o pó!"

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Neblina e sombras

Eu estava tentando provar que aquela loira misteriosa era uma assassina fria e interesseira.

Ela se chamava Mariana Ximenes. Era bonita e elegante. Havia cometido um assassinato brutal mas meticuloso, e estava disposta a apagar as poucas pistas deixadas para trás.

Só havia uma pessoa capaz de impedi-la: eu. E um objeto capaz de incriminá-la: a minha latinha de coca-cola edição especial forrada em veludo.

Mas, antes de estar certa de que a solução do crime residia na latinha, decidi procurar meus antigos camaradas. Era certo que, naquela cidade coberta de fumaça e sombras, eles poderiam me ajudar.

Curiosamente, toda vez eu via um vulto esguio, vestindo sempre vermelho, nas ruas próximas quando ia às casas dos meus amigos. Será que a infiel se adiantara, procurando-os antes para virar suas cabeças e convencê-los de que o demônio era um incompreendido anjo dos céus?

Ao me receber, meus antigos camaradas me tratavam de forma evasiva quando eu colocava as cartas na mesa: estava investigando um assassinato. Estava disposta a provar que a Mariana Ximenes era a assassina. Eles se esquivavam, davam desculpas, seus olhos passeavam ao redor da sala escura para não encontrar os meus. Não podiam me ajudar.

Mulher nefasta. Sua habilidade de sedução era mais poderosa do que o cano que eu levava em minha cintura e já havia fulminado a boa vontade dos meus amigos.

Ora, diabos. Tudo bem se meus amigos me deixassem na mão. Eu ainda tinha a lata de coca-cola edição especial forrada de veludo. As impressões digitais da criminosa estariam lá. A justiça seria feita. Havia uma esperança! Mas...

Eu tinha levado a lata de coca-cola edição especial forrada de veludo para o homem que transformava latinhas em canecas! Mas que merda. Será que ele já tinha trabalhado a minha encomenda? Será que a manipulação do objeto que guardava toda a minha esperança já apagara qualquer vestígio da prova do crime?

Corri pelas esquinas e becos molhados da cidade.

E aí acordei.

Eu sonho em noir, com atrizes famosas e latas de coca cola que jamais existiram.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

"Cézanne"

Ali naquela tarde, no D'Orsay, não eram incomuns os estudantes de arte fazendo reproduções de obras nos seus cadernos de estudos.

Aí tinha um japonês sentado de frente para uma tela.

E ele parou atrás do japonês e ficou olhando o trabalho.

Depois olhou para a tela original.

E de novo para o caderno do japonês.

E mais uma vez para a tela.

Parecia um filme mudo ou um desenho animado.

E eu vi que aquilo ia acabar de algum jeito.

Até que o japonês olhou para ele, por cima do ombro, queixo para cima. E falou: "Cézanne!"

E pronto, essa virou a hashtag da viagem.

Eike loucura

Estou obcecada pelo Twitter do @eikebatista.

Passei os 3 primeiros dias achando que era um fake do cara. Provavelmente meu sentimento foi embasado por tweets como:

"@eikebatista Sabem o que a Lagartixa falou para o Crocodilo? Nossa que "exagero"! Rs rs!"

ou

"@eikebatista Ja empreendi na Russia,Grecia,Rep.Tcheka,Canada, EUA,Venezuela,Argentina,,Bolivia,Peru,Chile,Nicaragua... o Brasil e imbativel"

O cara conjuga o verbo "empreender", cara.

Aí descobri que esse é o Eike *mesmo*. O cara mais rico do Brasil. O empresário intocável. O ex-marido da Luma (e, convenhamos, agora eu entendo o lance com o bombeiro, viu).

Agora proponho a criação do Troféu Eike Batista de Reals. Um contraponto ao já consagrado Troféu Vitor Fasano de Fakes.

Porque o Eike real consegue ser melhor do que um fake dele seria. Me diz que não:

"@eikebatista Yes, voce tambem mora no Paraiso! O Meio Ambiente tem que ser tratado como se fosse um Filho ou Filha! AVATAR"

(por que ele grita AVATAR no fim do tweet???!!!)

"@eikebatista My 2 Boys not loosing my Modesty, profound Knowledge how to make the world Brazil more efficient!Execution of all my cia Mega Projects"

(num intindi o que ele falou)